O velho e finado Diário de Lisboa foi um marco na imprensa portuguesa. Eclético, com inspiração democrática, vingava pela qualidade literária do seu jornalismo. E não era por acaso que grande número dos seus redactores eram jornalistas-escritores. No Diário de Lisboa, os leitores procuravam qualidade. E obtinham-na num grau que hoje não tem paralelo na indigência escrita em que mesmo o chamado jornalismo de referência se aproxima perigosamente, em termos de bem cultural e de comunicação, num nivelamento pela baixa do instantâneo, dos jornais de borla do mastiga-e-deita-fora que se impingem nos transportes colectivos e que poluem, em tapetes de lixo de papel impresso, os corredores do metropolitano.
O acaso permitiu que o Diário de Lisboa (a par do República, o outro jornal da casa) tivesse sido o jornal onde ganhei o gosto pela leitura e pela notícia, a iniciação no cheiro do papel de jornal e da tinta fresca vinda dos enconsos das tipografias (antes da modernidade técnica de hoje que torna o jornal num produto a aproximar-se do inodoro, incolor e insípido), a percepção decifradora do jogo de finta à censura. Depois, mais espigadote, continuei fiel ao DL e foi no DL-Juvenil que ganhei o gosto pela escrevinhadela, apoiado pela liderança paternal e exigente de Mário Castrim. E vivi o desaparecimento do DL como a perda lastimável de um património inimitável.
O Diário de Lisboa morreu há muitos anos. A nova geração leitora nem sequer lhe deve lembrar o nome. Mas não morreram todos os leitores que prolongam a memória da paixão pela sua leitura. Por exemplo, o leitor retratado na foto e que, com os seus sete anos e meio, se treinava a soletrar as notícias através desta leitura. E que, agora e blogando aqui, acha que este é o sítio certo para exarar testemunho de uma sua paixão.
De
IO a 6 de Outubro de 2005 às 15:49
O DL tornou-se o meu jornal, assim que cheguei a Portugal, que saudades!! - e no propedeutico, lembro-me de termos convidado o Castrim para vir falar aos estudantes, foi mesmo interessante!
Obrigada por esta memória!! - abraço, IO.
Já agora, posso meter-me com o jovem crucificado que está na outra foto?, oh João, tu és mais bonito agora... ou, dentro daquela farda ficavas sempre enfiadinho?...
Com a mesma idade, eu tinha a paixão pelo "Diário Popular". Sobretudo no verão, quando havia o concurso "Se é bom Observador..."
De
th a 5 de Outubro de 2005 às 23:36
De pequenino...abraço, th
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