Quarta-feira, 5 de Outubro de 2005

VIVA A REPÚBLICA !

republica.JPG

Que se pode dizer de se comemorar o 5 de Outubro de 1910? Muito.

Primeiro, um feriado dá imenso jeito a meio da semana. Uma belíssima razão que, para tantos, chega e sobra. Mas sempre digo que o 5 de Outubro é mais.

O 5 de Outubro foi uma ruptura com um passado feudal em que um tonto podia mandar-nos, gozando a vida à pala das cangas. E quando não havia tonto para nos mandar e o povo obedecer, ou lhes minguava o talento de procurarem ministros do reino que aguentassem o barco, sobravam as sotainas dos padrecas para darem com o catecismo dentro da cabeça e meter nas mãos os crucifixos para matarem o desejo de rasgar o destino.

O 5 de Outubro foi a prova do sonho republicano mas também da imaturidade acumulada e a incapacidade de se virar o rumo para paragens mais amplas. Meteram-se padrecas na ordem, deu-se voz às mulheres, alargou-se a instrução pública, deu-se cidadania ao voto, mas o caciquismo dos viscondes foi substituído pelo das “famílias jacobinas”, cimentou-se a estrutura da divisão abissal entre classes, África continuou com a missão de continuar a ser a árvore das patacas, enfiaram-se os camponeses na morte do lamaçal e dos gases tóxicos das trincheiras da Flandres, esqueceu-se o poder de recuperação e desforra dos senhoritos, padrecas e outros amigos do mando total. Até que a negação do 5 de Outubro, a desforra pela mão de fascistas, militaróides e clérigos, veio cedo, logo em Maio de 1926. Durou pouco, muito pouco, a nossa I República.

Depois, numa noite de 48 anos, a ideia de 5 de Outubro foi ficando cada vez mais naif, consoante o tempo ia passando e o grito de “Viva a República!” soava a coisa de velhos tontos e de novos com mais olhos que barriga, tão admirado - de chapéu na mão - era o chefe que nos tinha livrado da guerra por manhas bem esgalhadas com um e outro lado, tão sólidos e opulentos pareciam os ministros, os fascistas, os polícias, os curas de aldeia, os regedores, os pides e os bufos, o champas e o espírito santo mais o bullosa e os mellos, tão mansamente o povo deixava ir os seus filhos para a guerra em África e tão silenciosamente recolhia os seus mortos e estropiados. Embora, diga-se, o grito republicano nunca tenha falecido de todo. Sobretudo quando o edíficio católico-fascista se aproximou do peido mestre quando a pretalhada descarrilou do chicote e deu fogo nas peças dos seus gritos de Ipiranga.

Depois, em 1974, quando os sovietes pareciam estar ao alcance da mão, com o povo a mais ordenar, lutando para depois amouchar quando o “aparelho” estivesse operacional e tomasse conta da paróquia ao som obrigatório e único do “Avante, camarada”, a ideia do 5 de Outubro continuou velharia, assim a modos que uma coisa de mencheviques ou reaças saudosistas. Porque o Outubro da moda passou a ser um outro.

E hoje? Com a troupe laica e nada jacobina, aliada aos sociais-cristãos que sobraram do guterrismo; com o fernando na galp; o vara na caixa; o vitorino com o pina nas energias; o martins nas contas; o cavaco como reserva das boas contas; o soares e todo o reumático do baronato socialista a quererem rumar a belém; uma senhora de fátima fugida à polícia; o jerónimo a ensinar modos proletas a juízes, militares, polícias e malta amanuense da função pública; o louçã a enganiçar-se mais que um seminarista desafinado; o que sobra do 5 de Outubro? Tudo, digo. Porque, mais que nunca, é tempo de gritar:

- Viva a República!















publicado por João Tunes às 00:11
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3 comentários:
De O Raio a 22 de Outubro de 2005 às 02:19
"E hoje? Com a troupe laica e nada jacobina, aliada aos sociais-cristãos .... Tudo, digo. Porque, mais que nunca, é tempo de gritar:

- Viva a República!"

Francamente, com o poder a fugir dos eleitos pelo povo e a residir em Bruxelas, tudo o que referes são miudezas.
Não sinto vontade de gritar Viva a república quando vejo que revoluções e lutas pela liberdade nos conduziram a um regime cinzento, a uma ditadura contabilistica, a delegar todo o verdadeiro poder de decisão nuns senhores, geralmente estrangeiros e que residem fora de Portugal.
A República morreu, assassinada por quem nos entregou a Bruxelas. A mim só me apetece gritar, Viva a revolução...


De HMmnon a 5 de Outubro de 2005 às 19:44
Junto-me a esse grito.


De IO a 5 de Outubro de 2005 às 01:09
VIVA A REPÚBLICA!! Proclamou o direito a aprender e separou os poderes, IO.

Quantos a estes gajos de hoje: língua de fora!


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