Percebi sobre
o que falas. Também me arrepiei ao ler no Público de hoje o acto nefando do auto de fé sobre livros em biblioteca escolares decidido num despacho de um Secretário de Estado da Orientação Pedagógica (!). E pelo que percebi da figura de Rui Grácio, enquanto ele foi vivo e teve actividade cívica visível, era um homem ponderado e preventor de excessos. Mas, pelo menos num momento, o medo gerado pelo zelo revolucionário aqueceu-lhe a cabeça. O que nos remete, a mim remete-me, para a eterna pergunta como é possível que a besta que há em cada um de nós, de vez em quando, de nós tome conta? E que me desculpes, querida
Guida, prefiro esta formulação de partilha que a de transferir para os "responsáveis" todas as culpas, como me pareceu ser a tua posição. Sem canalhas colaborantes, como aqueles professores que se escudaram na cobardia do "cumprir ordens", o despacho do Rui Grácio teria sido apenas uma estupidez inútil sem que um único livro tivesse sido queimado. Mas, infelizmente, por cada dirigente canalha há uns mil canalhas para lhes cumprirem as ordens. E com um gozo talvez mais canalha que o dos mandantes.