Sexta-feira, 30 de Setembro de 2005
Para os devidos efeitos, declaro:
1º - Estou preparado para que Fátima ganhe em Felgueiras, Valentim em Gondomar, Isaltino em Oeiras, Isabel em Leiria, Carmona em Lisboa, Rio no Porto, Ruben na Quinta da Atalaia, Jerónimo em Periscoxe, Narciso na Lota de Matosinhos e Louçã em Sebastepol. Porque estou preparado para tudo.
2º - Estou preparado para que Cavaco seja o próximo Presidente da República. Porque estou preparado para tudo.
3º - Estou preparado para que Manuela Ferreira Leite tire o banquinho a Marques Mendes e seja, com a mão de Cavaco, líder do PSD e próxima primeira-ministra. Porque estou preparado para tudo.
4º - Sei que Ceuta e Melilla ficam perto. Confirmo: estou preparado para tudo.
Há dias, conversando por telefone com um amigo e antigo combatente na Guiné, a questão colocou-se (ou seja, a grande questão de fundo quando se fala da participação portuguesa nas guerras coloniais) teríamos sido ou não suficientemente decentes na forma como nos comportámos na guerra? Isto é, além do cumprimento de missões militares, onde a regra mínima só podia ser (para qualquer dos campos) o melhor para as NT e o pior para o IN, se era norma a prática de excessos e de desumanidades que ultrapassassem os resultados militares e se havia ou não respeito para com os guerrilheiros aprisionados.
O meu amigo garantiu que, na Guiné e pelo menos após a chegada de Spínola, o comportamento generalizado era o de um comportamento ético-militar exemplar, ou seja, fora dos combates, os guerrilheiros não só não eram maltratados, muito menos torturados, como seriam respeitados. Invocava ainda que isso não se devia a um acaso mas obedecia a regras impostas pelos altos comandos e integrando-se na filosofia da psico em que se procurava dignificar a condição militar perante as populações. Desta consideração, ele extraía que, fazendo o que tínhamos de fazer (combater), não tínhamos que nos envergonhar da nossa passagem pela Guiné.
Na minha experiência, também na Guiné, não assisti a nada que desmentisse este meu amigo. Era, de facto, assim e como ele diz. [Mas... (há sempre um mas)] Os militares a partir de determinada altura (os inícios das guerras foram mais selváticos de parte a parte), entendendo melhor os princípios da importância da ligação e conquista das populações, nas acções de contra-guerrilha, reprimiam as tendências para os excessos (embora, como todas as regras, tenham havido as suas excepções). Só que a mudança do comportamento militar (mais consentâneo com a ética da guerra) assentava num pressuposto de organização das tarefas o trabalho sujo era feito pela PIDE (cuja crueldade nas colónias era imensamente superior à utilizada na metrópole). Ou seja, as partes suja e limpa foi distribuído entre polícia e forças armadas, os prisioneiros capturados pela tropa eram submetidos a um primeiro interrogatório (que decorria de uma forma mais ou menos limpa) e depois entregues à PIDE que os submetia à tortura, ao assassínio, ao desaparecimento, ao envio para o Tarrafal ou ao aliciamento. Decentemente tratados pelos militares, os prisioneiros da guerrilha, quando entregues à PIDE, desapareciam do quadro das noções de humanidade. Um livro da historiadora Dalila Cabrita Mateus (*) demonstra como as coisas, combinadamente, se passavam na ligação PIDE-Forças Armadas nos teatros das guerras coloniais.
Ora, os militares combatentes sabiam deste jogo combinado entre trabalho limpo e trabalho sujo. Portanto, havia uma base de profunda hipocrisia consciente e representada, que não permite aos limpos militares dizerem, com inteira verdade, da sua estadia lá eu, e os outros, vimos de mãos limpas, cumprimos as regras da ética da guerra, não fomos desumanos para com aqueles que combatemos. Porque os crimes da PIDE (quase ainda totalmente desconhecidos quanto á sua extensão, desumanidade e número e identidade das vítimas) não foram um fenómeno exógeno à gerra colonial. As atrocidades pidescas foram parte fundamental na estratégia da guerra. E era a mesma guerra - a dos pides e a dos militares. Complementares. A lama de uns sujou os camuflados dos outros, porque a lama fez parte da presença portuguesa e da guerra que os portugueses travaram contra guinéos, angolanos e moçambicanos.
(*) A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961-1974, Dalila Cabrita Mateus, Ed. Terramar.
Imagem: Entrada do Campo de Concentração do Chão Bom (Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde) reactivado para encarcerar combatentes anticoloniais (a pequena parte que sobrevivia aos tratamentos sofridos nas delegações coloniais da PIDE).
Aqui fica o
link.
É isso, caro
Luís Graça (a quem agradeço a imagem). A vida não para mesmo. Ainda bem. O que nos dá a paz de cada dia para, em qualquer hora, sabermos passar serenamente à peluda.
Leio
aqui:
No Ano Mundial da Física (2005), a delegação portuguesa presente na X Olimpíada Ibero-Americana de Física para estudantes pré-universitários, regressa do Uruguai com uma medalha de ouro atribuída a Miguel Cunha Pereira, da Escola Secundária Francisco Lobo, em Leiria, e duas menções honrosas atribuídas a Pedro João Lobo César Medeiros Costa, da Escola Secundária Fonseca Benevides, em Lisboa, e Noel da Costa Leitão, da Escola Secundária da Lourinhã.Quem diria? Não somos assim tão fracos nem sem préstimo. Até na Física, os nossos jovens dão cartas. Bravo!
Para ler notícia mais completa, ir
aqui (de onde tirámos a imagem com a foto de grupo dos nossos brilhantes campeões).
Foi o PCP que desde muito cedo considerou que Portugal devia possuir meios de defesa aérea com capacidade de intersecção e, por isso mesmo, esteve de acordo com a 1.ª esquadra de F16.
Rui Fernandes, especialista em assuntos militares do jornal Avante.
Quinta-feira, 29 de Setembro de 2005
A notícia pode ser lida
aqui.
O que a Ordem dos Advogados se esqueceu de esclarecer foi a quem é que o Insigne Mestre serviu como Ministro da Justiça entre 1954 e 1968. E menos explica porque considera o finado como uma figura ímpar na história da cultura jurídica portuguesa . Terá sido pela fundamentação e introdução jurídico-penal da aplicação de medidas de segurança aos presos políticos - um critério de efeitos práticos arbitrários de encarceramento e em que qualquer oposicionista podia penar, numa sucessão de períodos porrogáveis de cadeia, desde que a PIDE lhe atribuísse perigosidade ou ameaça de reincidência, em que, com base neste critério é conhecido pelo menos um caso em que um prisioneiro político foi absolvido em Tribunal Plenário e manteve-se durante anos preso em Caxias para cumprir medidas de segurança?
Sem dúvida. O prémio vai para a estimadíssima
Brígida por este admirável
post. Parabéns. E continue. Com as suas receitas, o erotismo há-de acabar por vingar como a nobre arte que deve ser.
Quarta-feira, 28 de Setembro de 2005
O meu amigo
Carlos Gil está feliz porque trocou de carro. Tudo bem. Percebe-se. Eu, pelo menos, entendo. Há momentos de muita pica na habitação de nova casa móvel, o motor que puxa mais, a curva dada com menos abanão de traseira, a direcção que parece uma pena, as jantes de liga leve, a suspensão a ser compreensiva com a idade, o retrovisor que estica e encolhe, o porta-bagagens que acarta mais tralha, uma melhor impressão sobre os vizinhos, coisas assim.
Mas o meu amigo
Carlos, além de ter carro novo, arranjou agora um com uma moçoila incorporada e que lhe ralha quando ele falha nas regras. E ele, com o pé sempre a puxar-lhe para a malandrice, inventou um romance erótico com a moçoila do bólide (a quem baptizou de Telma) que lhe puxa pela líbido quando, em francês, lhe diz para fechar a porta ou apertar o cinto.
A não perder. Garanto que
vale a pena.
A minha querida amiga-irmã
Guida está comigo no apoio ao Poeta. Olhem só!
Eu, que tentei sempre que a ideologia não me estragasse os afectos, nem sempre o conseguindo (por culpas minhas e alheias), só posso sentir-me feliz por, coisa impensável, estar agora sentado no mesmo barco que o da mais querida das minhas queridas amigas. Ó Guida, até parece que navegamos no Alqueva! Mas, acredita, os beijos amigos que daqui te mando, não pelo poeta mas por ti, têm tamanho maior que o raio daquela albufeira que parece não ter fim e alguém, um dia, há-de descobrir para que serve.