
Amontoado atamancado de casarios espalhados e depois acumulados na invasão da areia. Porque onde mija um português, logo vão mijar dois ou três.
Somos muito assim gostamos de parir casas como os maníacos das proles parem filhos. Plantar uma casa (e depois de plantar a primeira, plantar a segunda e por aí fora) é aspiração cara a muitos portugueses. Onde calhar, estiver á mão e quando quem ordena sofra de distração crónica ou aguda. E em que é que a areia é menos que o sol? Pois, e o sol, desde que nasce, não espalha o signo da igualdade mais igualitária? Ocupam-se pois o máximo de palmos de areia a construir castelos privativos de lazer em que quase se possa adormecer com o mar a aconchegar os pés. Alguns destes espertos na patifaria urbanística e na devassa do ambiente até não gozam dos privilégios castelares, usam-na antes para meter cobres na conta, pondo a render a construção atamancada na areia privatizada, alugando-a aos orfãos de sol e mar. Depois, bem depois, que venham os legalizadores-urbanizadores remediar o remediável fazendo vista grossa ao irremediável. Somos muito assim.
No amontoado de casarios acumulados, há quem goste de dar um toque de gosto ou de dignidade. Por exemplo, dar a pose aristocrática de uma nobre aldraba à porta inventada em que tinta e ferrugem fazem luta de teimas.
Imagem: Ilha da Armona, Ria Formosa, Agosto 2005.