
O
tema [a Comissão para a Verdade e Reconciliação (CVR) presidida pelo Arcebispo Desmond Tutu com o propósito de desvendar a verdade acerca dos crimes racistas ocorridos entre 1 de Março de 1960 e 19 de Maio de 1994, na África do Sul do apartheid], o
Realizador [John Boorman, autor do fabuloso «Fim de Semana Alucinante» (1972), um dos meus filmes "inesquecíveis" e cuja crítica que lhe fiz então no "Notícias da Amadora" mereceu a fúria desbragada do censor de serviço] e essa Senhora
Actriz da minha perturbação encantada [Juliette Binoche], faziam do
filme ["Um Amor em África" - "Country of My Skull"] o banquete desejado e esperado.
No final, sobrou o tema e a evidência da monstruosidade do racismo afrikander. E que, eu sei porquê (quem não sabe?), lembram Angola, Moçambique e Guiné. E recordou-me a absolvição de culpas da PIDE por parte de alguns colonos nossos patrícios (que, culturalmente, querem morrer como colonos) e um excelente post do
Carlos Gil. E, só por isso, vale a pena ver o filme como revisita às nossas vergonhas.
No resto, o filme é uma imensa treta. Um desastre. O rodriguinho do enredo, a moralização que empobrece a denúncia e o resultado fílmico que é abaixo do mínimo exigido a um franciscano. Até Binoche, a divina Binoche, parece uma espécie de prima dela mesmo. E o título "português" diz quase tudo sobre a indigência exibida.
A não perder, apesar de tanto (que é muito). Porque estão lá os crimes, os que não esquecem nem prescrevem, e que estão entranhados em alguma da nossa cultura.