Maio 68 foi a
grande construção da
desconstrução dos paradigmas da mudança do mundo. Quase nada conseguiu daquilo que queria conseguir (a burguesia francesa, De Gaulle, reforçaram as suas influências e poderes) mas tendo rompidos os limites sem se perverter,
empurrou o ensino, o mundo do trabalho, as relações profissionais, os modos de vida, as relações interpessoais e os comportamentos para um salto de séculos. Comparando com o
Maio de 68 em França, nenhuma revolução conseguiu fazer sonhar e mudar tanto. Porque
perdeu? Talvez, na medida em que os burocratas não lhe deitaram mão (e bem tentaram, bem tentaram) e assim não conseguiram transformar o contra-poder em poder. Mas, julgo, sobretudo porque não se admitiram limites ao sonho e à imaginação, a derrota, quando veio, já o cansaço estava deitado na cama da desilusão, enquanto o mundo, o nosso mundo, tinha sido desafiado e questionado até ao ponto de não retorno. E hoje, à distância, a revolução de
Maio 68 será aquela a quem todos devemos mais que a todas as outras - vencidas ou vencedoras. Digo
devemos no sentido do relacionamento de cada um com os outros e na nossa
forma de vida. Um
paradoxo, convidando à reflexão, isto de devermos a uma
revolução perdida aquilo que não ganhámos com todas as
revoluções ganhas e por atacado (as de antes e as de depois de
Maio 68).
O pequeno livro de Fernando Pereira Marques (*) (**) sobre a sua experiência de
Maio 68 é uma magnífica revisitação reflectida aos acontecimentos que mudaram as pessoas mais que o mundo, o que será a forma mais eficaz de mudar este mundo. Tendo-o vivido por dentro (na altura, o autor era um jovem exilado político e estudante na Sorbonne), a sua formação académica (na área da sociologia) permite-lhe uma reflexão qualificada de testemunho decantado e refinado pelo passar do tempo. A que, como se isso fosse pouco, se acrescenta o valor de um excelente ensaio-prefácio de Eduardo Lourenço.
(*) A Praia sob a calçada, Fernando Pereira Marques, Editora Âncora.
(**) Fernando Pereira Marques é Académico (na Universidade Lusófona e na Universidade Nova de Lisboa) e director-adjunto da revista
Finisterra. Foi um combatente ao fascismo, encarcerado nas prisões políticas portuguesas, refugiado político em França, dirigente e deputado pelo PS.
De Joo a 25 de Junho de 2005 às 00:50
Bem aparecida, IO.
De
IO a 24 de Junho de 2005 às 16:33
Eh, pá, obrigadíssima por me teres recordado o livro!... é que, entretanto outros passaram à frente.. mas vou comprá-lo e ler! - uma que, faz amanhã 30 anos, acreditou que o SONHO era possível, porque o estava a viver. Chamava-se/chama-se MOÇAMBIQUE!! - e, lá no fundo, da memória, ainda acha, acho... Beijo, IO.
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