Na imagem que ilustra o post que dediquei a Chinchón, se repararem bem, no lado superior esquerdo, no meio das varandas vazias, há um vulto curvado. E aqui deixo o resultado do zoom. Naquela Praça, naquela moldura de varandas de madeira, aquele velho Pintor foi-me um achado e um insólito estético. Ficou-me a remoer na ideia este Pintor que não incomodei. Não sabendo como o homenagear melhor que com este atrevimento:Na Praça vazia
apesar de Maior
tão deserta estava
com varandas de silêncios
caídas como cascatas
e o Sol duro a afastar gentes
para a sesta
a sesta de Castilla
deixando a Praça vazia.
Uma Praça de terra batida
onde carros abancavam
heréticos
no sítio nobre dos touros,
quando os há.
E as varandas,
como esqueletos em madeira,
tristes as varandas,
a ajudarem à solidão da Praça.
Essa Praça solitária apesar de Maior,
mostrando que abandono
não tem tamanho
nem importância
no que se é ou se julga querer.
A Praça está vazia
ou parece vazia
na falta de atenção.
Mas uma varanda,
no meio das varandas tristes,
mostra-se habitada por um velho vivo
que parece perdido na idade do Pueblo
de nome Chinchón
na tristeza da Praça vazia
na companhia de pouco mais que
o Sol duro de Castilla.
O velho solitário
nas varandas tristes
esculpidas em madeira
não dorme sesta
nem guarda solidão contra si.
ELE PINTA.
Pinta naquela Praça
e naquelas varandas
que ele não deve querer tristes.
Em Chinchón
ao abrigo do Sol duro
o Sol de Castilla.
Não acenei ao velho pintor
alçado na sua varanda.
Não o quis incomodar
nem distrair
muito menos roubar-lhe inspiração.
Saí em respeito
deixando-lhe só para si
a Praça Maior
de Chinchón
a do Sol duro de Castilla.
Com pena que os carros
em vez dos touros
ocupassem a Praça
a Praça que é Maior
apesar de triste e quase vazia
reduzida a um Pintor.
Feliz é Chinchón
ao lado de Madrid
que tem um Pintor
metido numa cascata de varandas
que pinta a moldura
à sua Praça Maior
que ele não quiz vazia.